Além do clima, falta de ações públicas acarreta proliferação da dengue em Belém, aponta pesquisa
A dissertação de mestrado de Marcela Pereira mostra que, além do clima, a forma como são realizadas as ações públicas de combate à doença colaboram para a elevada incidência de casos na capital. Pesquisa analisou causas de incidência da dengue em bairros de Belém e medidas para combatê-la. Neldson Neves/Comus Juntos os bairros do Bengui, Mangueirão, Marambaia, Marco, Pedreira, Sacramenta e Souza possuem 325 mil habitantes e chegaram a concentrar 84% da prevalência de casos de dengue na cidade de Belém entre os anos de 2007 e 2015. Para a pesquisadora Marcela Pereira, da Universidade Federal do Pará (UFPA), além do clima, há mais fatores que tornam a doença epidêmica nessa área da capital do Pará. Os dados são da pesquisa “O clima tropical e a dengue: Uma análise como subsídio para gestão ambiental Municipal” apontam que além da umidade do ar, da temperatura e o índice de chuvas a forma como a poder público “combate a doença” podem estar contribuindo para que os surtos de dengue em Belém continuem ao longo dos anos. “Os meses de maiores ocorrências de dengue foram os meses de março, fevereiro, abril, janeiro e maio, com 70% dos casos. E todos os bairros obtiveram sua máxima ocorrência no mês de março, somente o bairro do Bengui atingiu esse máximo no mês de abril”, conta a Marcela Pereira. A pesquisadora explica que os sete bairros estudados fazem parte de uma mesma bacia hidrográfica, local que já passou por um processo de urbanização, por isso, deveria registrar uma diminuição do número de casos da doença, mas isso não está acontecendo. Acúmulo de lixo também pode incentivar o aparecimento de casos de dengue, mesmo em meses de verão, aponta pesquisa. Reprodução / MPPA Além de lidar com o clima propício para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, problemas urbanísticos como o lixo e a falta de saneamento criam condições para que a água parada se torne berçário para ainda mais mosquitos. Mas além de fatores naturais de uma cidade tropical, a forma como o poder público age e organiza ações de combate à proliferação da doença torna o combate às epidemias ineficaz. “No ano de 2013 o município passou praticar ações de erradicação com base na sazonalidade climática, fator que, caso tivesse sido implantado em anos anteriores, poderia ter efeitos mais significativos nessa relação entre clima e doença. Isso porque a falta de prevenção nos meses após o verão auxilia na proliferação do mosquito e no consequente aumento do número de casos”, explica a pesquisadora. Além disso, além de campanhas educativas e visitas aos domicílios não há mais nenhuma ação do poder público que busque a erradicação da doença. Essa “falta de pro atividade da organização municipal afim de controlar a doença tem proporcionado esses altos índices de correlação. Além disso, de acordo com a Secretaria Municipal de Saneamento, a redução de custos, as equipes de educação ambiental que agem nos pontos críticos de lixo da cidade foram outros fatores determinantes para esses altos valores”, aponta a pesquisa. Soma-se a essas condições, o fato dos investimentos feitos no controle da doença nos nove anos pesquisados ser majoritariamente emergencial e pontual. O objetivo, de acordo com a pesquisa, era potencializar os gastos e investimentos tratando os locais onde há surtos e não investindo onde não há casos, mas a prática, na verdade, tornam os trabalhos de controle e prevenção descentralizados, descontínuos e ineficazes. Além disso, não há sistemas centralizados de informações que prevejam os locais de forma integrada ou áreas que são comuns, como uma mesma bacia por exemplo. Os bairros estudados por Marcela Pereira, por exemplo, são vistos como áreas isoladas. “A Sesma atua de maneira pontual, como é orientada pelo Ministério da Saúde, porém, observou-se que esse tipo de ação sempre foi paliativa”. Aedes aegypti é o mosquito transmissor da dengue, febre amarela, chikungunya e zika vírus Pixabay/Divulgação Até os alagamentos comuns em Belém acabam trazendo aos meses de verão amazônico tendências de epidemias de dengue. Isso porque os ovos do mosquito podem se manter preservados e sem eclodir por até um ano, mas ao entrar em contato com água trazem uma nova geração de mosquitos. Por isso, a Secretária de Saneamento deveria ser parceria dos trabalhos de prevenção à dengue. Por isso, a pesquisadora propõe que os dados sobre a doença sejam também vistos a partir de outros fatores como sua correlação ambiental com as bacias hidrográficas, o que pode ajudar a gerir melhor os investimentos e ações públicas. “Verifica-se que para o sucesso contínuo das ações de medidas de erradicação contra o mosquito da dengue no município de Belém há a necessidade da articulação da gestão municipal por bacia afim de planejamentos contínuos e integrados entre saúde, meio ambiente, saneamento e recursos hídricos, a partir dos boletins epidemiológicos, possam acontece”, propõe a mestre em recursos naturais na Amazônia.
Fonte: G1 Pará
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