Oito pontos-chave do relatório de Robert Mueller sobre a investigação contra Donald Trump
Investigação contra presidente dos EUA durou 22 meses. Apesar de o relatório não o isentar das acusações, Trump comemorou decisão do secretário de Justiça em não levar o processo adiante. Trechos do relatório sobre o inquérito contra Donald Trump apareceram apagados Jon Elswick/AP Photo O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comemorou a decisão do secretário de Justiça, William Barr, de não acusá-lo de conluio com a Rússia e obstrução nas investigações. No entanto, o relatório divulgado pelo procurador especial Robert Mueller nesta quinta-feira (18) afirma que as investigações não chegam a isentar Trump de uma responsabilidade sobre as duas suspeitas. Principalmente porque, segundo o texto, o presidente tentou obstruir ao menos 10 vezes a investigação. Só não conseguiu – e, por isso, não foi acusado – porque os assessores envolvidos se recusaram a fazê-lo. Veja abaixo oito dos principais pontos do relatório final da investigação contra Trump. Demissão do diretor do FBI aumentou suspeitas de obstrução às investigações; Nomeação de Robert Mueller como procurador especial fez Trump temer perder o cargo; O presidente se empenhou para retirar Mueller das investigações; Além disso, Trump tentou minimizar o teor do inquérito; Trump pediu a equipe que hackeasse e-mails de Hillary Clinton em 2016; Pedido de Trump ao governo da Rússia para sabotar a adversária, porém, foi 'brincadeira'; Ainda inconclusivo, inquérito não acusa Trump – nem o isenta de culpa; Trechos do inquérito colocados sob sigilo levantaram suspeitas. Entenda cada um desses pontos abaixo Demissão do diretor do FBI Ex-diretor do FBI James Comey, durante entrevista ao 20/20, da TV americana ABC Ralph Alswang/ABC via AP Os primeiros sinais de obstrução apareceram em maio de 2017, quando, inesperadamente, Trump demitiu James Comey, então diretor do FBI. O relatório aponta que isso ocorreu porque o antigo chefe da polícia norte-americana não queria admitir, publicamente, que o presidente era inocente após o escândalo do suposto conluio com a Rússia vir à tona. Ainda em maio de 2017, Comey disse a senadores norte-americanos que o governo russo ainda influenciava na política dos EUA e representava "a maior ameaça" para a segurança da nação. Medo de perder o mandato Jeff Sessions com Donald Trump em foto de 2017 Kevin Lamarque/Reuters O relatório conta que, dias depois da demissão de Comey, Trump ficou furioso ao saber que Robert Mueller era o novo nome que conduziria a investigação sobre o suposto conluio com a Rússia. Ao retornar à sala e informar o presidente, o então procurador-geral, Jeff Sessions, enfrentou a ira de Trump, que se jogou na cadeira e disse: "Oh, meu Deus. Isso é terrível. Isso é o fim da minha presidência. Eu estou f… Isso é a pior coisa que já me aconteceu". Missão: tirar Mueller do inquérito Robert Mueller é o responsável pela investigação da suposta interferência russa nas eleições dos EUA Reuters/Aaron P. Bernstein Com Mueller comandando a investigação, Trump entrou em cena para forçar uma saída dele do cargo. Ele pediu, mais de uma vez, que conselheiros retirassem o procurador especial do posto, ou então que convencessem Jeff Sessions a assumir o inquérito. No entanto, Trump não conseguiu convencer os assessores, diz o documento. Em duas ocasiões, os conselheiros do presidente preferiram renunciar. Guerra de informações Presidente dos EUA, Donald Trump, participou de conferência em Washington nesta quarta-feira (17) Carlos Barria/Reuters As outras provas apresentadas por Mueller de que Trump tentou – mas não conseguiu – obstruir a investigação se referem aos esforços do presidente em evitar que o assunto saísse completamente na imprensa norte-americana. Em um dos casos, em 2017, Trump apagou parte de um comunicado à imprensa em que admitia que houve um encontro entre Trump Jr. com russos. No ano seguinte, ele pediu que um assessor "desmentisse" a versão de que o presidente queria derrubar Mueller do cargo. Porém, esse assessor, Don McGahn, respondeu ao presidente que ele teria de dizer a verdade aos investigadores. Hackers na campanha de Hillary Hillary Clinton durante um evento de campanha em Las Vegas Andrew Harnik/AP O relatório cita o assessor da campanha de Trump Rick Gates, que disse que "no final do verão de 2016, a Campanha Trump estava planejando uma estratégia de imprensa, uma campanha de comunicação e mensagens baseadas na possível divulgação de e-mails de Clinton pela WikiLeaks". Gates disse ainda que o próprio Trump afirmou que a divulgação de "mais informações prejudiciais" aconteceria, mas a data dessa conversa foi censurada na versão divulgada do relatório. Michael Cohen, ex-advogado de Trump, também disse que o presidente falou a ele sobre contatos com a WikiLeaks, mas o conteúdo da conversa é outro ponto que foi censurado. Trump diz que pedido à Rússia foi 'brincadeira' O então candidato republicano Donald Trump fala em um evento de campanha no resort Doral, em Miami, em 2016 REUTERS/Carlo Allegri O relatório também fala do interesse de Trump em emails que Hillary guardava em seu servidor doméstico, aqueles que o então candidato chegou a pedir publicamente que a Rússia encontrasse, um episódio que depois chamou de "brincadeira". De acordo com o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, Trump pediu que sua equipe contratasse pessoas para rastrear os e-mails e uma empresa chegou a ser criada para isso, arrecadando mais de US$ 30 mil, contratando especialistas em segurança e entrando em contato com hackers com "laços e afiliações à Rússia". Mas, ainda segundo o relatório, os e-mails não foram adquiridos. Nem acusa nem isenta de culpa Robert Mueller, conselheiro jurídico especial encarregado de investigar o caso “Russiagate” Associated Press Os diversos relatos e provas coletadas não foram suficientes para Mueller recomendar a acusação de Trump nos crimes de interferência externa na eleição ou por obstruir as investigações. Da mesma forma, o inquérito também foi considerado insuficiente para isentar o presidente da possível culpa nos dois casos. Trump comemorou a decisão de Barr não acusá-lo formalmente na Justiça norte-americana. No entanto, os congressistas dos EUA ainda podem começar outra investigação sobre o caso. Trechos sob sigilo Por fim, intriga o fato de que quase 40% das 448 páginas do inquérito tiveram trechos colocados sob sigilo, censurados com uma tarja preta. Na maioria dos casos, a procuradoria classificou essas partes como temas sensíveis, ou seja, que não poderiam ser publicados por questões de segurança do inquérito. Isso irritou parte da oposição, que pediu que o Departamento de Justiça entregasse a versão completa do relatório. Em parte, os parlamentares democratas conseguiram: a pasta deve entregar uma segunda versão com menos trechos sob sigilo ao Congresso dos EUA.
Fonte: G1
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