Diretor de teatro Antunes Filho morre aos 89 anos

Inovador, ele deu espaço nos palcos às obras nacionais. Em 1978, fez uma montagem revolucionária de ‘Macunaíma’, de Mário de Andrade. Diretor de teatro Antunes Filho morre aos 89 anos O teatro brasileiro perdeu um de seus mais importantes mestres. Morreu na noite desta quinta-feira (2), em São Paulo, aos 89 anos, o diretor Antunes Filho. José Alves Antunes Filho nasceu no tradicional bairro do Bixiga, berço de inúmeros espetáculos teatrais, no centro de São Paulo e, desde as primeiras peças, nos anos de 1950, Antunes se destacou pela coragem de inovar. Uma época em que diretores brasileiros começavam a ocupar um espaço que era só dos estrangeiros. “Isso surgiu numa florada e nessa florada veio o Antunes Filho”, contou o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. Obras nacionais ganharam espaço nos palcos. O ano era 1978. O público que lotava o teatro São Pedro, em São Paulo, foi assistir a uma peça baseada num clássico da literatura brasileira, “Macunaíma”, de Mário de Andrade, que tinha sido lançado 50 anos antes. Quando as cortinas se abriram, o que o público viu não foi apenas a encenação de um livro já bem conhecido; foi uma revolução. O ator Cacá Carvalho fazia o papel de Macunaíma. A peça era inovadora. Antunes deu uma visão autoral à história e marcou profundamente os atores que viajaram o mundo com uma peça de quatro horas, falada em português, para teatros sempre lotados. “Ao mesmo tempo em que ele te obriga a ler, ele te obriga a ver, ele te obriga a escutar, ele te obriga a praticar. É muito rico para a formação de todos nós”, contou Cacá. Antunes também dirigiu clássicos de Nelson Rodrigues. “Eu que já fui profano em dizer ‘não faço Nelson Rodrigues à lá carioquês, não. Vou fazer de outro jeito’. Mas agora eu voltei, então essa trilogia é dedicada ao Rio de Janeiro, inconscientemente”, disse Antunes. E, a cada peça, aumentavam as críticas pela ousadia das abordagens e também pelo que se tornou sua marca: o rigor na preparação dos atores. “Eu gosto de ver o jogo dos atores e poucas coisas. E sim o ator, o seu corpo e sua voz. Isso que eu gosto, de ver o jogo”, explicou. A aposta nos jovens era uma constante no trabalho de Antunes Filho. E muitos se tornaram bem conhecidos do público. “Aqui têm grandes promessas e gente já feita. Tem o Melão, o Melo, o Luís Melo, que acho que ele vai estourar”, disse. E foram muitos os atores formados pelas mãos de Antunes Filho, que criou o Centro de Pesquisa Teatral, em parceria com o Sesc. Em um documentário, feito em 2007 por estudantes de cinema em São Paulo, Antunes fala sobre o poder da criação. “Para você criar, você tem que flutuar. O criador flutua. O bom ator flutua. Ele está em outro tempo, em outro espaço, sempre”, observou. Também explica como é sua paixão pelo teatro. “Às vezes a pessoa está falando lá e eu estou repetindo o texto para ver a respiração como é que está, onde está o erro, onde está o acerto. Sou bêbado nessa porcaria de profissão. Fazer o quê?”, disse. Em 61 anos de carreira, Antunes dirigiu pelo menos uma peça por ano. “Estou sempre em trânsito, eu não fico, eu estou caminhando, o que importa é caminhar”, definiu. Às vezes, sem usar palavras. Outras, com coros vigorosos. Cacá Carvalho, o protagonista de Macunaíma, relembra trechos da peça no palco onde ela estreou. “Vivia deitado e também despertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos, e nus”, relembrou. Cacá Carvalho se despede de Antunes com a música que cantou há mais de 40 anos na peça Macunaíma: é a despedida ao índio que morre. “Vamos dar a despedida, Taperá. Tal e qual o passarinho, Taperá. Bateu asas, foi embora, Taperá”, cantou.


Fonte: G1

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