Revelada identidade de russo misterioso que há anos 'trola' governo de Vladimir Putin

O perfil StalinGulag, de Alexander Gorbunov, vive um jogo de 'gato e rato' com o governo russo (Foto: BBC)

 

Assinatura BBC topo (Foto: BBC)


 

Depois de anos de especulação, o responsável por "trolar" o Kremlin nas redes sociais veio a público e revelou sua identidade.

Alexander Gorbunov, que usa o perfil StalinGulag, atraiu 300 mil seguidores no Telegram e mais de 1 milhão no Twitter com suas postagens espirituosas e amargas, que ridicularizam a situação atual na Rússia.

Agora, Gorbunov decidiu revelar sua identidade publicamente, para, segundo disse à BBC News Rússia, prevenir represálias contra a sua família.

No início dessa semana, a polícia visitou o apartamento da mãe dele.

Em 2017, Alexei Navalny, líder da oposição na Rússia e crítico ferrenho do presidente Vladimir Putin, chamou StalinGulag de "o mais importante colunista na Rússia".

Nas postagens, StalinGulag sempre destaca aspectos absurdos e injustiças da vida cotidiana. Aborda também temas políticos e econômicos.

Entre seus alvos mais recentes, estavam a visita do líder norte-coreano, Kim Jong-un, à Rússia, os planos do governo russo de instalar tecnologia 5G, as eleições presidenciais ucranianas e as propostas da Rússia de proibir importações de presunto e queijo parmesão espanhóis.

StalinGulag tem criticado as restrições russas a alimentos estrangeiros (Foto: Getty Images via BBC)

 

No mês passado, escreveu sobre uma família em Novosibirsk, na Sibéria, que viu o filho adotivo ser barrado na escola por ser HIV positivo. Postou também sobre um paciente idoso em Irkutsk que se matou no hospital depois de esperar horas por um exame de sangue.

"É impossível ficar em silêncio quando coisas loucas estão acontecendo [na Rússia]", disse Gorbunov à BBC.

O homem por trás do perfil StalinGulag é dono de uma história extraordinária, que começou muito antes dele se tornar um dos maiores críticos ao Kremlin nas redes sociais.

Nascido em Makhachkala, na costa do mar Cáspio, em 1992, ele foi diagnosticado com atrofia muscular espinhal, uma doença degenrativa sem cura que o colocou numa cadeira de rodas.

Aos 13 anos, ele começou o primeiro negócio. Vendia suplementos alimentares online. Em seguida, se tornou um corretor financeiro de sucesso, especializado em derivativos (contratos de pagamentos futuros) e em criptomoedas.

Atualmente, ele vive em Moscou com a esposa, aproveitando o que ele mesmo descreve como vida boa com saídas regulares a restaurantes e a teatros.

O governo russo tentou, sem sucesso, bloquear o Telegram no ano passado (Foto: Getty Images via BBC)

 

Ele faz questão de ressaltar que alguém com necessidades especiais como as dele precisa ser capaz de ganhar dinheiro para pagar por toda a estrutura necessária para ter uma vida normal.

'Só quero escrever'
Para alguém cujos tuítes curtos frequentemente contém palavrões e gírias, Gorbunov se revela, na vida real, como uma pessoa articulada, educada e contemplativa.

Ele chegou ao escritório da BBC bem vestido, usando uma camisa polo preta e um casaco tweed. Ele tem fala macia e expressa uma confiança serena, de quem está acostumado a ser ouvido.

Está claro que Gorbunov é um homem que quer aproveitar ao máximo o tempo que lhe resta.

Ele sabe que seus medicamentos não conterão o avanço da doença, e é por isso que se recusa a tomar remédios que poderiam prolongar a vida dele.

"Um ano a mais, um ano a menos, não faz diferença para mim", diz Gorbunov. "Não quero passar o resto da minha vida num hospital".

Alexei Navalny, ferrenho crítico de Putin, é só elogios ao StalinGulag (Foto: Getty Images via BBC)

 

Gorbunove criou, de forma anônima, o perfil StalinGulag no Twitter em 2013.

Naquela época, ele ainda vivia em Makhachkala e passava a maior parte do tempo em casa porque, segundo ele, não era uma cidade fácil para se locomover usando uma cadeira de rodas.

"Eu só queria escrever", diz. "Meu computador e a internet me permitiam acompanhar o que estava acontecendo no resto do mundo... E sempre tive interesse em política".

Assinatura BBC footer (Foto: BBC)

 




Fonte: Globo

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