Twitter e Instagram flertam com um futuro sem a ferramenta 'curtir'
O "curtir" é uma das métricas mais valiosas para os usuários do Facebook, Twitter e Instagram. O recurso permite que os internautas saibam se suas postagens são apreciadas pelo público e também ajuda os serviços de mídia social a decidirem melhor qual conteúdo exibir primeiro ou quais anúncios devem receber mais cliques.
Para muitos, a ferramenta também transformou as mídias sociais em um concurso de popularidade, tirando o foco de postagens e conversas de qualidade. O "curtir" tem mostrado que aguça o sistema de recompensa do cérebro da mesma forma que ganhar dinheiro ou comer chocolate, de acordo com estudo de 2016 do Ahmanson-Lovelace Brain Mapping Center da Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles.
Em uma época em que as empresas de tecnologia estão sendo analisadas e forçadas a reavaliar algumas de suas principais características, o Twitter e o Instagram mostraram que estão, ao menos, prontos para considerar um mundo sem o "curtir", segundo reportagem da Fortune.
Numa conferência do TED em abril, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, disse que se ele inventasse hoje o Twitter novamente, "não criaria as 'curtidas'". Dorsey afirmou também que não faria a contagem de seguidores ser tão proeminente.
O novo aplicativo de protótipos do Twitter, o twttr, projetado para testar novos recursos, explora a ideia de facilitar as conversas. O app permite que as pessoas leiam os tweets em um design mais limpo, sem se distraírem tanto com métricas — como o número de "curtidas" e retweets, embora os usuários possam ainda tornar as curtidas visíveis se quiserem.
A equipe do Instagram também parece estar avaliando a pressão social que a ferramenta cria. Um protótipo interno descoberto pela primeira vez pelo desenvolvedor Jane Manchun Wong em 18 de abril mostrou que o número de "curtidas" foi retirado de um post. Em vez disso, foi destacado o nome de um amigo que gostou da postagem.
Instagram is testing hiding like count from audiences,
— Jane Manchun Wong (@wongmjane) 18 de abril de 2019
as stated in the app: "We want your followers to focus on what you share, not how many likes your posts get" pic.twitter.com/MN7woHowVN
"Não estamos testando isso [retirada da ferramenta] no momento, mas explorar as formas de reduzir a pressão no Instagram é algo que estamos sempre pensando", disse um porta-voz do Instagram à Fortune, por e-mail.
No Facebook, os usuários, além de "curtir", podem também expressar outras emoções, como “uau”, "amor", "riso", "tristeza" e "raiva". Quando perguntado se a empresa está repensando a forma como o "curtir" é exibido, um porta-voz do Facebook se recusou a comentar.
Empresas de mídia social gostam tanto do recurso quanto os próprios usuários. O "curtir" ajuda a informar o algoritmo que decide qual conteúdo deve exibido no feed de notícias — inclusive entre os posts antigos.
Recompensas poderosas
"Curtidas" são pequenas recompensas poderosas. No estudo da UCLA, os pesquisadores pediram a 32 adolescentes que postassem fotos. Depois, as imagens foram exibidas em uma tela por 12 minutos, junto com um número falso de "curtidas".
Quando os jovens viram que suas fotos tinham um grande número de "curtidas", os pesquisadores detectaram atividade em várias regiões do cérebro, incluindo o circuito de recompensas. Quando os adolescentes foram convidados a escolher fotos para "curtir", os pesquisadores também concluíram que eles foram influenciados pelo número de "curtidas" que as imagens já tinham.
Embora a discussão em torno do valor de um botão "curtir" seja válida, Jeremy Littau, professor de jornalismo e comunicação na Universidade Lehigh, na Pensilvânia (EUA), argumenta que a propriedade viciante das "curtidas" é causada, na realidade, pelas notificações. "Toda vez que alguém comenta, publica e reage você é atraído para o site", diz.
Para os usuários que são viciados em "curtidas", desativar as notificações é uma maneira fácil de gastar menos tempo nas mídias sociais. Isso pode ser feito indo para "configurações" nos aplicativos do Facebook, Instagram e Twitter.
Fonte: Globo
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