Indonésia procura nova capital enquanto a sua atual (literalmente) afunda
Considerada um desastre urbanístico e ambiental, Jacarta deve deixar de ser a capital da Indonésia. Nesta semana, o governo local voltou a discutir a mudança de seu centro executivo — um tópico que gera debates no país asiático há mais de 60 anos. A região conhecida como “grande Jacarta” abriga mais de 30 milhões de pessoas e sofre com problemas de mobilidade e engarrafamentos homéricos. Mas outro problema ameaça a cidade: ela passa por um processo de afundamento e deve ficar parcialmente submersa dentro das próximas décadas.
Jacarta já foi chamada de “a cidade que afunda com mais rapidez no mundo”. E isso não é uma metáfora. Construída sobre um terreno pantanoso, foi fundada às margens de uma baía banhada pelo Mar de Java e é cortada por 13 rios. Por conta dessas características, enfrenta constantes alagamentos — e o cenário só deve piorar. Estudos apontam que, até 2050, 95% da região norte da cidade (exatamente a porção banhada pelo mar) estará submersa. A situação é preocupante. Nos últimos 10 anos, Jacarta afundou 2,5 metros. Algumas regiões da capital afundam até 25 centímetros por ano. No norte, prédios abandonados servem como alerta para o futuro da cidade.
Na última segunda-feira (29/04), o presidente indonésio Joko Widodo ordenou que ministros formulem um plano para viabilizar a troca da capital, que deve acontecer ao longo da próxima década. As primeiras informações, ainda preliminares, apontam para uma mudança do governo, sua equipe executiva, ministros e o parlamento. Outras instituições, como o banco central, devem permanecer na atual capital.
Os custos para a mudança são estimados em US$ 33 bilhões, de acordo com reportagem da Bloomberg. Para pagar a conta, o governo espera contar com a boa vontade do setor privado. A ideia do presidente Widodo é rachar as despesas: metade para o governo, metade para a iniciativa privada.
Lençóis freáticos
Como se o pesadelo ambiental não fosse suficiente, a capital ainda sofre com os efeitos de uma concentração demográfica não planejada. Um dos grandes impactos do aglomerado de 30 milhões de pessoas são engarrafamentos gigantescos. Estima-se que esses congestionamentos custem cerca de US$ 7 bilhões ao ano para a economia indonésia.
Jacarta não está sozinha. Outras cidades costeiras ao redor de todo o mundo enfrentam a ameaça das águas. Com o aumento da temperatura média do planeta, o gelo das regiões polares derrete em ritmo acelerado. A temperatura também faz com que a água se expanda. Basta lembrar das aulas de física: o calor expande materiais, seja água de mares e oceanos ou um móvel de madeira que range ao longo do dia.
Mas há outro fator que contribui para a submersão da capital da Indonésia — e que não tem recebido a atenção das autoridades locais. Sem fornecimento de água apropriado, parte da população extrai água de lençóis freáticos, atividade que acontece de forma não regulamentada. “Como isso acontece há muito tempo, cada vez que você retira água do subterrâneo, a estrutura porosa colapsa”, explicou à Wired a geóloga Estelle Chaussard, da Universidade do Oregon, que estuda o processos de afundamento de Jacarta. Basta pensar em um balão que vai perdendo ar (ou água, neste caso) e deixa de sustentar a pressão aplicada por um dedo (neste caso, prédios e carros).
Fonte: Globo
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