“É inevitável que o carro vá perder espaço. Já está acontecendo”
Uma revolução mundial vem acontecendo na forma de se locomover, prometendo não apenas otimizar o tempo no trânsito, mas também mudar a maneira de se relacionar com a cidade. A micromobilidade prevê o uso de veículos, no caso do Brasil, patinetes e bicicletas, essencialmente, para percorrer distâncias curtas. Segundo estudo da consultoria norte-americana Mckinsey, cerca de 60% dos deslocamentos em todo mundo são inferiores a 8 quilômetros. O que demonstra o enorme potencial e necessidade do setor. Mas como fazer essa mudança com segurança?
Para Marcelo Loureiro, diretor geral da Grow Brasil, empresa que tem em seu portfólio as marcas Yellow e Grin, a chave para uma micromobilidade segura é educação e vontade de inovar. A empresa vai debater o tema na próxima sexta, dia 03, durante o Summit Grow de Segurança e Convivência na Micromobilidade, em São Paulo. Conversamos com Loureiro para entender melhor o momento e as expectativas de crescimento.
Qual o conceito de micromobilidade e como ele está sendo aplicado no Brasil? A micromobilidade pode ser a solução para quais problemas enfrentados nas grandes metrópoles? Quais as vantagens para os usuários?
A micromobilidade oferece soluções para pequenas distâncias. Serve para trajetos entre bairros e para percorrer distâncias curtas, muitas vezes até a estação de transporte coletivo mais próxima, normalmente o primeiro ou o último quilometro de um trajeto. Os veículos usados na micromobilidade são de tamanho e potência adequados para essa finalidade, de até duas pessoas e não-poluentes. São veículos que não ocupam espaço excedente ao necessário para conduzir uma ou duas pessoas e não tomam espaço dos demais meios e dos cidadãos, inclusive com estacionamento. Bicicletas, ebikes e patinetes elétricos, além do próprio caminhar fazem parte destes meios de transporte.
Atualmente, os centros urbanos estão crescendo exponencialmente e a micromobilidade é uma peça central para resolver os desafios associados a essa mudança, em, ao menos, duas áreas: sustentabilidade e economia de tempo. Seus usuários, além de ter uma vida mais ativa e saudável - no caso do mover-se através da mobilidade ativa - gastam menos tempo em deslocamento do que usuários que utilizam outros transportes. E assim, têm uma melhor qualidade de vida. Há também, claro, economia de dinheiro.
Quais os principais desafios da microbilidade?
Hoje temos cidades pensadas para carros e os seus estacionamentos e temos que ter cidades pensadas para pessoas, este é o primeiro desafio da micromobilidade. A partir do momento que se pensa em cidades para pessoas, pedestres, ciclistas, usuários de patinetes, se pensa em estrutura de qualidade para tal: calçadas em boas condições e acessíveis; malha cicloviária conectando bairros; ruas e avenidas sem buracos, ondulações, ou qualquer interferência fixa; praças e espaços públicos acessíveis e bem cuidados para que as pessoas possam viver a cidade. Além de um replanejamento urbano que permita a ligação entre pontos importantes da cidade, explorando a micromobilidade. É inevitável que o carro vá perder espaço. Já está acontecendo.
Qual a chave para uma micromobilidade segura? Como adotar esses demais meios de transporte com segurança?
A chave para uma micromobilidade segura é educação e vontade de inovar. Educação no sentido que todos saibamos que o espaço que compartilhamos - qualquer que seja - é finito e que temos que nos colocar sempre no lugar do outro. Compartilhamos os espaços em praças, ruas, calçadas, avenidas e se não tivermos a consciência e educação que temos que respeitar o próximo, e que o maior protege o menor, não haverá um ambiente seguro. O usuário de patinete tem que respeitar o ciclista, que tem que respeitar o pedestre e todos devem conviver em harmonia. Essa é a chave para um ambiente seguro. Isso se replica a qualquer modal. Quanto à vontade de inovar, ela é necessária para que as comunidades e o poder público se mobilizem para que tenhamos uma nova organização das cidades, com mais espaço para essas alternativas ao carro, com mais ciclovias e estacionamentos públicos para bicicletas e patinetes.
Quais regras precisam ser obedecidas?
As regras de trânsito e de boa convivência. Onde o mais forte protege o mais frágil. Neste caso, o mais frágil sempre será o pedestre. Isso já está previsto na legislação atual, como o Código de Trânsito Brasileiro e as resoluções do CONTRAM, que se aplicam às bikes e aos patinetes.
Qual seria a regulamentação ideal para o uso desses meios de transporte?
Entendemos que várias cidades brasileiras estão mostrando o caminho. Uma boa regulamentação é aquela que oferece à comunidade a infraestrutura e a organização do espaço púbico adequado para que o usuário da micromobilidade possa se locomover em ciclovias, e tenha espaço para estacionar o veículo compartilhado de forma a não atrapalhar os demais cidadãos e veículos. Mais ciclovias e estacionamentos públicos são os pontos chaves da regulamentação destinada aos municípios.
Quais outras experiências existentes você poderia citar como bons exemplos a serem seguidos?
Recife e São José dos Campos saíram na frente na implementação de uma regulamentação para a micromobilidade municipal. Os dois casos são experiências bem positivas. Ambos já consideram o conceito de micromobilidade com a amplitude adequada, que abarca bicicletas, bicicletas elétricas, patinetes elétricos e outros modais que poderão vir dentro desse escopo. No caso de São José dos Campos, um ponto a destacar é que a própria prefeitura criou áreas públicas para estacionamento e retirada dos equipamentos. E em Recife, vagas públicas e gratuitas de veículos nas ruas também estão autorizadas para o uso de bicicletas e patinetes.
Na sua opinião, qual a expectativa de crescimento desses meios de transporte no Brasil?
É exponencial. Importante notar que a curva de adoção de patinetes no mundo, por exemplo, tem um vigor jamais visto, maior que a do celular. Isso é porque mobilidade é um imenso problema para os cidadãos das grandes cidades. Temos muitas áreas a expandir ainda nas metrópoles onde já estamos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, entre outras. E vamos chegar a outras, como Salvador e Fortaleza. Sempre crescendo no ritmo certo, para que tenhamos densidade na oferta do produto, para que as pessoas encontrem os veículos disponíveis nas nossas áreas de atuação. E também para que haja o tempo adequado para a penetração das nossas campanhas de educação para o uso adequado dos veículos. Isto é bom para as cidades e para todos os cidadãos. Com a redução das emissões de carbono, redução do trânsito e aumento da qualidade de vida.
Fonte: Globo
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