Arthur Nogueira apresenta neste sábado bate-papo e pocket show com entrada franca, em Belém


Programação será às 17h, na Capela do São José Liberto. “Eu só faço música por causa dos poetas”, diz o cantor e compositor Arthur Nogueira, que mergulha na atmosfera da literatura e do som neste sábado (18), às 17h, em bate-papo e pocket show com entrada franca na Capela do São José Liberto, em Belém. O evento, apoiado pelo Banco da Amazônia, encerra a primeira edição do projeto “Itinerâncias”, que abriu com show de Arthur e Fernanda Takai no começo do mês, no Teatro Gasômetro. Fernanda Takai e Arthur Nogueira em show no Gasômetro Divulgação Um dos jovens artistas paraenses de maior visibilidade no país, Arthur foi indicado ao Grammy Latino por seu mais recente disco, “Rei Ninguém”, teve música gravada pela Gal Costa, acaba de lançar um EP e assinou a direção do mais novo disco de Fafá de Belém, “Humana”. Em entrevista ao G1, o artista fala sobre o momento profícuo da sua carreira, a parceria com grandes nomes das artes do país e da arte como resistência. "Todo o meu trabalho é para que as pessoas não se esqueçam de olhar as estrelas. Caso contrário, tudo é treva." 1. A respeito do EP “Coragem de Poeta”, gostaria que você comentasse a respeito do que te motivou a gravá-lo e o que costura as canções escolhidas por você para este trabalho. O motivo para esse EP, infelizmente, foi uma sensação de desamparo em relação ao Brasil, diante de tanto retrocesso e intolerância. Precisei correr para os braços poéticos de alguns artistas que me inspiram e encorajam. Fui para o estúdio com meu violão e gravei ao vivo canções de Renato Russo, Cazuza, Antonio Cicero e María Elena Walsh, algumas das quais imortalizadas por cantoras ousadas e maravilhosas, como Cássia Eller, Maria Bethânia e Mercedes Sosa. Esse time de artistas me enche de luz. Aliás, a Hannah Arendt tem um livro chamado “Homens em tempos sombrios”. Ela utiliza a palavra "sombrio" por causa do famoso poema de Brecht, "An die Nachgeborenen" ("Aos que vão nascer", na tradução do Geir Campos). Os tempos podem ser sombrios, segundo Arendt, tanto no sentido de tenebrosos como no sentido da falta de clareza que favorece a distorção da verdade. "São tempos de tiranias e injustiças que se impõem pela mentira, isto é, "pelo discurso que não revela o que é, mas o varre para sob o tapete". Acredito que agora atravessamos tempos sombrios no Brasil, nos dois sentidos". Fafá de Belém na capa de seu mais novo disco, "Humana" Divulgação 2. Você já comentou que ouvia os discos da Fafá de Belém em sua infância. Como um jovem artista compreende esse movimento de ter se tornado amigo e parceiro musical de alguém como ela, que é parte de sua memória afetiva? É uma tremenda honra. Se há alguns anos alguém capaz de prever o futuro me dissesse que eu produziria esse disco, bem como antecipasse outras belas realizações que a música já me permitiu até aqui, eu não acreditaria. A Fafá é uma cantora impressionante. Meu trabalho foi no sentido de reiterar isso, em busca da melhor moldura para que o seu canto se apresentasse pertinente e vigoroso agora. Gravamos o álbum praticamente ao vivo, com uma banda excepcional, a partir de um processo coletivo de criação dos arranjos. Contei novamente, nesse sentido, com os músicos Zé Manoel, Allen Alencar, João Deogracias e Richard Ribeiro, a mesma equipe com a qual produzi meu álbum anterior, “Rei Ninguém”, de 2017. 3. Como se deu essa aproximação? Como foi o convite para o projeto da Fafá e todo esse processo criativo? Como você define o "Humana"? A Fafá já definiu muito bem o “Humana”. É um trabalho coletivo. Toda a equipe que participou contribuiu decisivamente para o resultado final. Meu primeiro encontro com ela no estúdio foi para o álbum “Rei Ninguém”. Antonio Cicero e eu tivemos a ideia de convidá-la para participar de uma faixa dedicada ao poeta Waly Salomão. Arthur Nogueira ladeado por Fafá de Belém e Antonio Cicero Divulgação A canção, chamada “Consegui”, é nossa e surgiu depois de uma ligação em que o Cicero leu para mim aqueles versos, que de fato se parecem com as coisas de Waly, seu grande amigo. Para nossa alegria, a Fafá gostou da música e topou cantá-la comigo. De lá para cá, curtimos jantares, charutos, drinks e conversas interessantes, inclusive sobre a música do nosso Pará. O convite para produzir o “Humana” partiu da Fafá e do DJ Zé Pedro, o dono e idealizador da Joia Moderna, a gravadora por onde Fafá e eu lançamos nossos álbuns anteriores. A Joia Moderna, em meio às ondas tão confusas do mercado fonográfico brasileiro, é hoje, como bem definiu o jornalista Thales de Menezes, “uma ilha de independência musical”. 4. A sua trajetória é permeada pela relação entre literatura e música. Quais os autores que mais foram contundentes na sua produção enquanto artista? Eu só faço música por causa dos poetas. Meu primeiro espanto com a poesia foi com Waly Salomão, quando descobri "Mal secreto", letra dele com música de Jards Macalé, na estante de LPs do meu pai. Naquele momento, entendi como o Brasil desmantelou as fronteiras entre a alta poesia e a canção popular. Digamos que Waly me abriu as portas, mas foi Antonio Cicero quem me ensinou a ler poesia. Entre os poetas que me acompanham sempre, posso destacar Walt Whitman e Ferreira Gullar. Gosto muito dos portugueses, como Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Adília Lopes e Luís Miguel Nava, e também da polonesa Wisława Szymborska. No Brasil de 2019, tenho cada vez mais interesse em Ricardo Aleixo, Angélica Freitas e Ana Martins Marques. Entre os compositores, os autores de melodia e letra que mais me inspiram para compor talvez sejam Caetano Veloso e Tom Waits. 5. Você já fez um projeto de récita de poemas combinado com apresentação de canções, que apresentou em cidades como São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belém. Será um formato semelhante o que você propõe ao projeto "Itinerâncias"? Devido às dificuldades de circular com minha banda completa, resolvi formatar um show de voz e violão que me oportunizasse ir a cidades onde eu nunca pudera me apresentar antes, como Salvador e Porto Alegre. Agora, nesse projeto específico, quero, além de cantar, compartilhar minha experiência com a poesia e pensar qual o seu sentido no mundo contemporâneo. A partir do meu repertório autoral, vou contar histórias, falar sobre as relações entre poesia e canção popular e expor alguns métodos e inspirações para o ofício da composição musical. 6. Qual a importância de aproximar o público da poesia, sobretudo no atual contexto político, que tende ao embrutecimento social e à perseguição à arte? A poesia nos transporta para outro tempo, que não está ligado ao que Antonio Cicero chama de "cadeia utilitária", na qual "o sentido de todas as coisas e pessoas no mundo, o sentido inclusive de nós mesmos, é sermos instrumentais para outras coisas e pessoas". Só nessa dimensão não utilitária, digamos assim, é que podemos experimentar a liberdade. Todo o meu trabalho é para que as pessoas não se esqueçam de olhar as estrelas. Caso contrário, tudo é treva.


Fonte: G1 Pará

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