Casal de escritores cai na estrada para ensinar e distribuir poesia

'Percorremos mais de cem mil quilômetros, oito estados, mais de 30 cidades mineiras, e pretendemos bater às portas de outras cidades, de outros distritos', diz Andreia Donadon. Casal de Mariana, em Minas Gerais, comemora projeto que distribui livros e ensina poesia Na casa onde tudo é um convite à imaginação, as crianças se rendem à poesia. “Sol de meio dia bate pino” É um mundo de descobertas para os estudantes. No local, eles aprendem o que é aldravia. “É a primeira forma de poesia criada no Brasil, que é um poeminha singelo de só seis palavras. Então, veja aqui: Epifania do belo meu ipê amarelo”, explicou o escritor Benedito Donadon. E vem mais surpresa. Um teste para o olfato.: “Que cheiro bom”, comentam as crianças. “Isso é o cheiro da poesia. Criaram o cheiro da aldravia”, conta Andreia. Benedito Donadon e a mulher dele, Andreia Donadon, são escritores e há dez anos recebem em casa estudantes e moradores de todo o canto. Depois do rompimento da barragem da Samarco, em 2015, o casal se mobilizou. “Nós doamos 900 livros para a constituição de uma biblioteca num dos bairros mais carentes da cidade”, disse Benedito. A literatura ganha vida na mistura de vozes que sussurram apressadas. Micaela escolheu uma historinha de arrepiar. “Os meninos começaram a correr e a gritar sem parar. A cada novo grito, o último da fila era arrastado até sobrar Luizinho, que começou a ficar desesperado”, recitou a menina. É tanta inspiração que Yasmim Constantino, de 9 anos, foi logo pegando papel e caneta. Escreveu um poema! Uma aldravia. “Amor é uma aventura gostosa. Aproveite”, recitou. “Só de entrar nessa casa percebi que a leitura é uma coisa muito boa, inspiradora, gostosa." Para despertar o gosto pelos livros, eles devem chegar às mãos de mais e mais pessoas. Por isso, Andreia e Benedito estão sempre na estrada. As viagens Brasil afora em busca de novos leitores são o capítulo mais importante na história de vida do casal. Eles partem com o carro cheio de livros. O caminho é entre as montanhas de Minas. Operários que trabalham na estrada são os primeiros a ganhar os presentes. “Não esperava de uma hora para a outra o carro parar e dar o livro. Foi emocionante", disse Raunei Inácio Borges, auxiliar de encarregado. O destino desta vez é Claudio Manoel, um vilarejo de Mariana, que fica perto da área atingida pela barragem de Fundão. O casal e dois voluntários batem perna pelo lugarejo tranquilo. Os caçadores de leitores chegam à casa de dona Sandra. O filho Eduardo, de 5 anos, desce as escadas, curioso. Pega o livro e, mesmo sem saber ler, inventa uma historinha. “E assim a galinha disse que vai comer”, conta Eduardo. Sandra conta que é a primeira vez que ele pega num livro. “Aqui não tem livro, não. A gente fica muito feliz de o filho ler. Na hora que ele for dormir, conto as historinhas para ele. Vou contar história para ele." “Percorremos mais de cem mil quilômetros, oito estados, mais de 30 cidades mineiras, e pretendemos bater às portas de outras cidades, de outros distritos. E levando a poesia, porque a poesia é a melhor forma de acalentar o próximo”, disse Andreia Donadon.


Fonte: G1

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