“Sou mandona mas também sou fofa”
Raquel, uma executiva com 20 anos de experiência na indústria de recursos naturais acabou de ser promovida para um cargo importante na empresa. O novo chefe anunciou a chegada dela para o time: “Estamos felizes de ter a Raquel no time, apesar dela ser uma mandona!”
Se fosse a primeira vez que tivesse ouvido isso, Raquel talvez tivesse ficado ofendida. Mas ela contou essa historia para mim com orgulho: “Sou mandona mesmo, mas também sou fofa.” Ela acerta as prioridades, entrega os projetos mas sempre trata as pessoas com respeito.
Meu primeiro choque sobre as diferenças de gênero no trabalho aconteceu quando comecei a gerenciar pessoas e projetos. Fui chamada de “agressiva” por me posicionar nas reuniões. Enquanto isso, vi líderes homens gritando, interrompendo a fala de outros e ignorando os pontos de vista diferentes. Ninguém chamava eles de agressivos. Pelo contrário, parecia quase que esse tipo de comportamento gerava mais respeito por eles.
No começo eu pensava que algo estava errado comigo. Comecei a me censurar, falar menos, não discordar das ideias que não faziam sentido para mim, deixar as coisas para lá. Foi um momento confuso na minha carreira. De um lado, para evitar as críticas, eu tinha que esconder minha personalidade naturalmente questionadora. De outro lado, sentia que isso impactava a qualidade do meu trabalho e que teria que pagar um preço de qualquer jeito.
Depois descobri que eu não estava sozinha. De fato, as pesquisas demonstram que as mulheres são julgadas diferentemente dos homens e recebem feedbacks mais vagos e menos objetivos. Em um estudo feito sobre o exército norte-americano, os pesquisadores compararam 81 mil avaliações de desempenho. A escolha do exército não foi aleatória. É uma organização majoritariamente masculina que se orgulha pelos valores de igualdade de oportunidades e promoção de meritocracia.
Quando os pesquisadores avaliaram as métricas objetivas (notas acadêmicas, preparo físico, posição na turma), não acharam diferenças de gênero. Mas quando olharam para as métricas mais subjetivas, eles descobriram que os gestores usaram com mais frequência palavras positivas para descrever homens e mais palavras negativas para descrever mulheres.
O que isso significa para você?
Quando for chamada de agressiva, o primeiro passo é avaliar se esse feedback é justo:
Está entrando em muito conflitos desnecessários?
… diminuindo os colegas?
… gritando ou xingando as pessoas?
… sempre tentando satisfazer seus interesses a qualquer custo, ignorando os interesses dos demais?
Se a resposta para uma ou mais dessas perguntas for “sim“, talvez seja bom suavizar a sua abordagem
Porém, se você for uma mulher assertiva que entrega resultados e trata os colegas com respeito, mas ainda assim recebe feedback subjetivo com palavras como “agressiva”, “mandona”, “chata”, “bossy”, etc… Parabéns! Você tem competências de liderança! Talvez o mundo não esteja preparado para seu talento.
Não se modifique em função disso. Pode aproveitar a filosofia da grande feminista, Valesca, e mandar beijinho no ombro dos inimigos!
Se você é um/a gestor/a de pessoas, preste atenção em como você avalia e dá feedback para as mulheres e os homens no seu time. Em vez de criticar com adjetivos (“agressiva”), destaque situações e comportamentos específicos que não estejam adequados e faça sugestões de como tratar diferente (“Naquela reunião, você falou que a sugestão era estúpida. Em vez disso, poderia sugerir uma outra abordagem”).
Vou finalizar essa coluna com uma sugestão de nove estratégias não ameaçadoras de liderança para mulheres, desenhadas pela satirista Sarah Cooper, para animar o seu dia.
*Miriam Grobman ajuda líderes de empresas de grande porte e startups criar culturas mais eficazes e fortalecer suas lideranças femininas. Ela também desenvolve programas de liderança para mulheres de alto potencial. Miriam aplica dados para estimular novas formas de pensar e identificar vieses no ambiente de trabalho. Miriam possui um MBA da escola de negócios Wharton e mestrado em estudos internacionais da Universidade da Pensilvânia, além de graduações em ciência da computação e economia da Universidade de Texas em Austin. Antes de abrir sua consultoria, Miriam trabalhou em finanças e estratégia nos EUA, Brasil e Europa, atuando em setores diversos como mineração, tecnologia, cosméticos, e bancário
Fonte: Globo
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