Conheça John Bercow, o presidente da Câmara do Reino Unido que pede 'ordem' nas sessões sobre o Brexit


Em entrevista ao G1, a figura conhecida dos debates tensos no Parlamento fala sobre curiosidades da Câmara, paixão por gravatas e deseja sorte ao 'colega' Rodrigo Maia. Presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, organiza uma das votações de emendas sobre o Brexit em janeiro HO/PRU/AFP/Arquivo A figura de John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido, ganhou notoriedade para além das ilhas britânicas com as tumultuadas votações sobre o Brexit. Afinal, é ele o responsável por botar ordem – aos berros de "Order!" – nos parlamentares que, até agora, não se decidiram sobre a melhor forma de o país deixar a União Europeia. Veja o vídeo abaixo. Veja John Bercow em ação na Câmara dos Comuns Com um tema divisivo como o Brexit, os parlamentares frequentemente se interrompem, tomam a palavra sem serem chamados e reagem com gritos de "eeeeeeh" – como uma bagunça de escola. É nessa hora que o "Mr. Speaker" aparece como o disciplinador. Em entrevista ao G1, Bercow conta que, nesses casos, a saída é recorrer ao bom humor. "É uma questão de profissionalismo", aponta. “Não é porque os debates são tensos, acalorados e com um clima furioso de discórdia, que o presidente da Câmara deve ficar irritado”, afirma Bercow. Desde que os britânicos decidiram pela saída do Reino Unido da União Europeia, em 2016, o Parlamento e o governo de Theresa May não chegaram a um consenso sobre como o Brexit deve ocorrer. Os parlamentares rejeitaram, mais de uma vez, o acordo que a primeira-ministra costurou com o bloco, e a data da separação foi adiada de março para outubro. Votações difíceis e atabalhoadas não são privilégio do Reino Unido. No Brasil, o Congresso Nacional também enfrenta sessões duras – às vezes aos berros – nas discussões sobre a reforma da Previdência. O presidente Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante sessão no plenário da Casa nesta terça-feira (19) Luis Macedo/Câmara dos Deputados Perguntado se tinha algum conselho a dar ao presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia (DEM), Bercow pondera: "Seria um pouco pretensioso eu apontar o que se deve ou não fazer". O britânico, porém, manda um recado ao colega de profissão: "Desejo sucesso ao 'speaker' brasileiro [Rodrigo Maia], e que os debates ocorram dentro de uma atmosfera positiva", diz. Como vota, deputado? John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns, fala durante a votação que deu a Theresa May a permanência no mandato como primeira-ministra, em janeiro Jessica Taylor/UK Parliament/AFP/Arquivo Na maioria das vezes, o presidente da Câmara lê aos parlamentares presentes a proposta e pede que os favoráveis ou contrários digam, em voz alta, sim ou não. Caso não haja maioria clara, o "speaker" grita: "Divisão! Deixem o salão". O que vem depois parece programa de auditório dos anos 1990. Quem vota "sim" segue ao corredor da direita. Quem vota "não" vai para a esquerda. Os parlamentares têm oito minutos para se decidir. Não tem painel eletrônico. Veja a arte abaixo: Saiba como funciona a votação no Parlamento britânico Wagner Magalhães e Rodrigo Cunha/G1 A votação física gera situações curiosas. Bercow contou ao G1 que há casos de parlamentares que ficaram presos no banheiro e não conseguiram chegar ao corredor de votação dentro dos oito minutos. "Teve gente também que foi ao lado errado e não conseguiu retornar a tempo de corrigir o voto", relatou o presidente da Câmara. Neutralidade obrigatória John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns, assiste a culto religioso com a esposa, Sally Carl de Souza/AFP/Arquivo O rito do Parlamento britânico obrigou Bercow, eleito pelo Partido Conservador pela primeira vez em 1997, a deixar a agremiação quando se tornou presidente da Câmara em 2009. Ele, aliás, é obrigado a não se posicionar publicamente sobre assunto nenhum – nem sobre o Brexit. Tanto que ele não tem direito a voto. A exceção é quando há empate nas votações, e aí o voto de minerva fica a cargo do presidente. E mesmo assim, um precedente o manda votar de tal modo que os parlamentares continuem a discutir o assunto em questão. "Não é o presidente que deve criar uma nova lei quando a maioria da Casa não se posicionou a favor disso", explica Bercow. Em quase 10 anos no cargo, ele só precisou fazê-lo uma vez, no último 3 de abril, quando os parlamentares votaram empatado numa resolução que permitiria fazer mais uma sessão sobre o Brexit à revelia do governo de May. Seguindo o precedente, Bercow votou não. O presidente da Câmara dos Comuns britânica, John Bercow, durante sessão de 18 de março do Parlamento, em Londres Reuters TV via Reuters A cautela com a neutralidade não impede Bercow de ter boas relações com os diversos lados da Câmara. "Um parlamentar que é grande apoiador do Brexit foi meu padrinho de casamento. E, ao mesmo tempo, tenho grandes amigos anti-Brexit", exemplifica. Ainda assim, a vigilância é grande: parlamentares, principalmente governistas, pediram que Bercow deixasse o posto por supostamente colocar em risco a neutralidade da posição. Pressionado, ele cogitou deixar o cargo neste ano, mas voltou atrás e deve continuar, de acordo com o jornal britânico "The Guardian". Assim, Bercow mantém o cuidado para não vazar ao público nenhuma posição que ele tenha sobre um tema. “Você não pode dizer no privado algo que não poderia defender em público”, explica. Um gato chamado Order Além de futebol, John Bercow é fã de tênis. Na foto, ele aparece comemorando o ponto do alemão Alexander Zverev contra o suíço Roger Federer no ATP World Tour Finals em Londres, em 2018 Ben Stansall/AFP/Arquivo Bercow contou ao G1 que, não raro, precisa gritar "Order!" também no apartamento onde vive com a mulher, Sally, e os três filhos, dentro do Palácio de Westminster, sede do Parlamento. No entanto, os gritos não são direcionados às bagunças das crianças: o gato da família se chama "Order". E é um caçador nato. "A gente vive em um palácio muito antigo, então o Order faz um belo trabalho em espantar os ratos", diverte-se. Morar na sede do Parlamento, inclusive, deixa o presidente da Câmara quase todo o dia com a cabeça no trabalho. Para relaxar, Bercow vai com o filho mais velho, Oliver, de 15 anos, a jogos do Arsenal. Um programa quase semanal. As gravatas de John Bercow chamam a atenção. Em uma homenagem ao sul-africano Nelson Mandela, em 2013, o presidente da Câmara dos Comuns usou uma gravata com bandeiras da África do Sul estampadas Stefan Rousseau/Pool/AFP/Arquivo Além disso, ele também guarda o hábito de colecionar gravatas – todas muito coloridas, que já chamaram atenção da imprensa britânica e das redes sociais. "Muita gente me diz que ama, mas tem quem não goste: 'Ah, John, eu detestei'", contou. "Mas é a minha gravata, e não a deles." "Qualquer que seja seu trabalho, você precisa se desligar um pouco às vezes. Ou então, você enlouquece", reflete.


Fonte: G1

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