“As mulheres são capazes de mudar o jogo”, diz Sophie Trudeau
“Hoje, metade da população mundial tem os seus direitos negados. Essa metade é formada pelas mulheres. É preciso mudar isso. Quando a sociedade é mais inclusiva, e quando mulheres tomam parte no processo de criar um mundo mais criativo, todos nós ganhamos.” A declaração foi feita por Sophie Grégoire Trudeau, uma das mais importantes ativistas do mundo no tema igualdade de gênero, no último dia da conferência C2 – Comércio e Criatividade em Montreal.
Por seu trabalho como defensora dos direitos das mulheres, ela recebeu em 2018 o Humanitarian Award da Organização das Nações Unidas de Nova York. No momento, Sophie, que é mulher de Justin Trudeau, presidente do Canadá, atua também como embaixadora para a We Well-Being, organização que conscientiza a população sobre questões de saúde mental.
Confira abaixo alguns dos principais trechos da palestra, que foi aplaudida de pé pela plateia do evento em Montreal.
Mulheres e lobos
“Em seu livros, o respeitado economista Robert H. Frank fala sobre a economia da sorte. Existem duas linhas de pensamento sobre a relação entre sorte e sucesso. Uma delas, mais conservadora, diz que nós construímos nosso sucesso trabalhando duro, com foco e determinação. As escolas de pensamento mais liberal defendem que as histórias individuais de sucesso estão ligadas às pessoas que você encontrou na sua vida, às condições em que viveu, à família que criou você. Todos esses elementos exteriores definiriam as oportunidades que você tem na sua trajetória.
Se acreditamos que somos parte de uma rede interconectada de pessoas muito diferentes, e que essas pessoas contribuem para o nosso sucesso, é fundamental perceber que, nesse momento, metade da população do mundo não faz parte dessa rede, porque tem seus direitos básicos negados. Essa metade é formada pelas mulheres.
É preciso mudar isso. Sabemos com certeza que, quando a sociedade é mais inclusiva, e quando mulheres tomam parte no processo de criar um mundo mais criativo, todos nós ganhamos. As mulheres são capazes de mudar o jogo.
Isso me lembra um livro que eu li recentemente: Wolfpack, de Abby Wambach. Ela conta que, em 1995, no Yellowstone Park, a vegetação e o meio ambiente estavam em perigo por causa da superpopulação de veados. E aí decidiram reintroduzir lobos no ambiente. E, quando trouxeram de volta essa espécie, que é a mais temida da região, todo o sistema se regenerou. Olhando para o planeta hoje, vemos que as mulheres, aquelas que dão a vida, são temidas por um sistema ao qual elas pertencem. E por isso têm seus direitos mais básicos negados. Precisamos chamá-las a participar integralmente da sociedade. Se fizermos isso, os mundo vai se regenerar.”
O presente da introspecção
“O mesmo economista, Robert Frank, disse que o que pensamos de nós mesmos vai determinar quem queremos ser. Como alguém que teve uma desordem alimentar quando era adolescente, lembro que, quando comecei a compartilhar minhas histórias, tudo mudou. Foi assustador. Mas, no momento em que compartilhamos nossas batalhas, entendemos que somos ligados por essas batalhas. Para ganhar essa perspectiva, muitas vezes temos que nos afastar desse mundo que se move tão rapidamente, fazer uma pausa e lembrarmos de quem realmente somos. Esse é um dos maiores presentes que podemos dar a nós mesmos.
Converso com muitos jovens no meu trabalho, e eles se sentem sobrecarregados pela pressão dos colegas, das redes sociais, da mídia, do consumismo. E quando, em pleno 2019, nos ensinam que garotas não pensam e garotos não sentem, dá para perceber a dificuldade dessa geração. Não são só as mulheres que sofrem. Os rapazes também se sentem presos por uma definição estreita do que significa ser homem. Gostaria que algum dia pudéssemos dizer a nossos rapazes: você sabe que pode fazer tudo que as mulheres fazem, não é? Mas essa ainda não é a narrativa.”
Líderes na diversidade
“A noção de liderança é muito peculiar na nossa sociedade. Muitas vezes, para defini-la, usamos palavras como luta e honra. Mas há muitos jeitos diferentes de comandar. Para liderar nesse mundo, temos que reconhecer que todos nós temos histórias diferentes. Hoje, tantas pessoas são discriminadas por seu local de origem, por sua identidade. Então, seria importante pensar que todos nós somos líderes da nossa própria maneira. Os jovens entendem isso. Conheço vários deles que já lideram pesquisas com células-tronco ou novas formas de alimentação. Eles são líderes, mas precisam de um mundo mais inclusivo, mais igualitário, para poderem crescer.”
Inovação interna
O que queremos para o amanhã começa com o que fazemos hoje. Como podemos interagir uns com os outros com respeito, compaixão, empatia? O Canadá não está imune aos ventos da polarização. Então devemos continuar a crescer juntos para criar mais igualdade, e devemos sempre estar atentos a nós mesmos. Porque, no final das contas, de onde viemos, e o que vivemos no passado não é tão forte quanto o que temos dentro de nós. Temos que investir em nós mesmos como pessoas criativas e acreditarmos no nosso potencial único para inovar. Se cultivarmos a criatividade dentro de nós mesmos, a inovação e o progresso irão acontecer naturalmente. Então, obrigada pela sua consciência, pela sua capacidade de introspecção, pela sua capacidade de liderança, e por inspirar outras pessoas no seu caminho.”
Fonte: Globo
Comentários
Postar um comentário