Ataque de hackers também atinge grupo do Conselho Nacional do MP

Câmara dos Deputados aprovou convite ao ministro Sérgio Moro para que explique as mensagens atribuídas a ele e publicadas no site Intercept. Ataque de hackers também atingiu políticos e grupo do Conselho Nacional do MP A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (12) um convite ao ministro Sérgio Moro para que explique as mensagens atribuídas a ele e publicadas no site Intercept, em que Moro, segundo o site, orientaria procuradores da Operação Lava Jato. O ministro já havia se oferecido para fazer a mesma coisa no Senado. As investigações iniciais mostraram que o ataque de hackers a autoridades ligadas à operação foi muito mais amplo do que se supunha e atingiu também políticos e um grupo de integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O procurador José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, afirmou ter recebido mensagens do número de outro colega procurador, Marcelo Weitzel, integrante do Conselho Nacional do Ministério Público. A conversa foi na terça-feira (11) pelo aplicativo Telegram, mas quem estava mandando mensagens era um hacker se fazendo passar pelo procurador Weitzel. O procurador disse que recebeu um áudio e respondeu que não viu nada demais no conteúdo. O hacker insistiu para que Robalinho criticasse a Lava Jato e informou rindo: “Não sou o Marcelo. Sou o hacker. Quer falar comigo? Eu não tenho ideologias, não tenho partidos, não tenho lado, sou apenas um funcionário de TI (tecnologia da informação). Tive acesso a tudo”. O invasor não explicou o que era “tudo”. Robalinho disse que ligou para o colega Marcelo Weitzel para relatar o que tinha acabado de acontecer. Por meio da assessoria, Weitzel confirmou a invasão no Telegram e que medidas sobre o caso estão sendo definidas. Outro caso veio a público nesta quarta: a invasão de hacker no grupo de procuradores do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no Telegram. O conselho está analisando supostas irregularidades cometidas pelos procuradores da Lava Jato. O Jornal Nacional teve acesso a trechos das conversas no grupo. O suposto hacker se passa novamente pelo procurador Marcelo Weitzel: “Procuradores da República da força-tarefa são indicados por falsificação e uso de documento falso”. Um dos procuradores do grupo questiona: “Marcelo, essas mensagens são suas? Não está parecendo seu estilo. Checa teu celular aí”. E aí vem a resposta: “Hacker aqui. Adiantando alguns assuntos que vocês terão de lidar na semana, nada contra vocês que estão aqui, mas ninguém melhor que eu para ter acesso a tudo, né. Eu sou apenas justo, onde não encontrei injustiça fiz de conta que não passei. Mas encontrei apenas na Lava Jato por hora”. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu nesta quarta para a Polícia Federal unificar as investigações sobre ataques cibernéticos a integrantes do Ministério Público e que a PF apure a invasão ao celular do conselheiro do CNMP Marcelo Weitzel - o hacker invadiu a conversa do grupo do conselho. A Polícia Federal está investigando em quatro inquéritos invasões a celulares do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e de procuradores da Lava Jato. Invadir, hackear celulares e ter acesso a dados privados é crime. O artigo 154-A do Código Penal diz que é crime contra a inviolabilidade de segredos “invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”, com pena de três meses a um ano de detenção, mais multa. A invasão de celulares atingiu procuradores e magistrados que atuam na Lava Jato. Além de Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, também tiveram celulares invadidos ou sofreram tentativas de invasão a juíza que substituiu Moro temporariamente na 13ª Vara Federal em Curitiba, Gabriela Hardt; o desembargador Abel Gomes, relator da segunda instância da Lava Jato no Rio; o juiz Flávio de Oliveira Lucas, do Rio; o procurador Eduardo el Haje, também do Rio; o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot; a procuradora Thaméa Danelon, de São Paulo; o procurador Andrey Borges de Mendonça, também de São Paulo; o procurador Marcelo Weitzel, do CNMP; o procurador Danilo Dias, ex-integrante do grupo de trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República; e o jornalista Gabriel Mascarenhas , do jornal “O Globo”. Moro vai à Câmara e ao Senado Em uma rede social, o ministro Sérgio Moro falou nesta quarta sobre invasões. Ao comentar cinco pontos sobre redução da criminalidade, o ministro disse: “Hackers de juízes, procuradores, jornalistas e talvez parlamentares, bem como suas linhas auxiliares ou escândalos falsos não vão interferir na missão". A Câmara aprovou um convite para Moro prestar esclarecimentos sobre o caso no dia 26 de junho. O ministro e o diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, estiveram com o presidente Jair Bolsonaro para informar sobre os primeiros passos da investigação sobre a invasão dos celulares. No domingo (9), o site Intercept publicou uma troca de mensagens atribuídas a Moro e ao procurador Deltan Dallagnol. Segundo o site, os diálogos indicariam que o então juiz Sérgio Moro orientou ações e cobrou novas operações dos procuradores. Moro teria reclamado do tempo entre uma operação e outra. Em outro trecho de conversa, pelo Telegram, segundo o Intercept, Moro passou para Dallagnol pistas de uma suposta transferência de propriedade para um dos filhos de Lula. A Constituição brasileira diz que um juiz não pode aconselhar o Ministério Público nem direcionar seu trabalho. Deve apenas se manifestar nos autos dos processos para resguardar sua imparcialidade, fato ressaltado pelo Intercept para divulgar os diálogos. Nesta quarta, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Edson Fachin, falou sobre as mensagens. Disse que circunstâncias não vão prejudicar a Lava Jato. “A Lava Jato é uma realidade e não acredito que esta realidade venha a ser afastada por qualquer circunstância conjuntural. A operação trouxe um novo padrão normativo, jurídico, portanto, e também de natureza ética ao Brasil e à administração pública. Tenho confiança plena que isso não é suscetível de qualquer retrocesso”. A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que “os novos ataques confirmam a possibilidade de hacker fabricar diálogos usando perfis de autoridades”. Os procuradores afirmaram que “a divulgação de supostos diálogos obtidos por meio absolutamente ilícito, agravada por esse contexto de sequestro de contas virtuais, torna impossível aferir se houve edições, alterações, acréscimos ou supressões no material alegadamente obtido. Além disso, diálogos inteiros podem ter sido forjados pelo hacker ao se passar por autoridades e seus interlocutores. Uma informação conseguida por um hackeamento traz consigo dúvidas inafastáveis quanto à sua autenticidade, o que inevitavelmente também dará vazão à divulgação de fake news”. Ainda segundo a nota, “o ataque em grande escala, em plena continuidade, envolvendo integrantes do Ministério Público, Poder Judiciário, Poder Executivo e imprensa, revela uma ação hostil, complexa e ordenada, típica de organização criminosa, agindo contra as instituições da república. É necessário não apenas identificar e responsabilizar o hacker, mas também os mandantes e aqueles que objetivam se beneficiar desses crimes a partir de uma ação orquestrada contra a Operação Lava Jato”. O presidente da Associação de Delegados Federais, Edvandir Paiva, afirmou que a invasão dos celulares é grave. “Quando é com um objetivo específico de causar um prejuízo ao próprio estado brasileiro, colocando em risco uma operação tão importante como a Operação Lava Jato, é mais grave ainda. O sigilo de autoridades foi quebrado, violado, para um fim específico que é colocar em xeque uma operação que foi tão importante para o país”.


Fonte: G1

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