Decisão de Bolsonaro sobre preços da Petrobras desvaloriza ações

Quando tomou posse na presidência da Petrobras, o economista Roberto Castello Branco disse que os preços dos combustíveis iriam acompanhar os do mercado internacional. Decisão de Bolsonaro sobre preços da Petrobras desvaloriza ações A desvalorização nas ações da Petrobras foi provocada pela sinalização que o governo deu aos acionistas da empresa e aos investidores em geral. Primeiro, porque os preços cobrados pela Petrobras não se baseiam na inflação brasileira, mas nos custos das operações e no mercado internacional do petróleo. E, ainda, porque a intervenção do presidente Bolsonaro na política de preços da Petrobras repetiu uma prática reconhecidamente desastrosa de outros governos. Desde janeiro, o reajuste de preços do diesel era livre. Flutuava de acordo com o valor do petróleo no mercado internacional e da cotação do dólar, que vem oscilando muito com a expectativa em torno da reforma da Previdência. O reajuste do preço do combustível não leva em conta a inflação como explica o economista Luiz Carvalho, analista sênior de petróleo e gás do UBS. “Duas variáveis principais: o preço do petróleo, que é a matéria-prima para composição do diesel; em segundo, como o diesel é comprado em dólar, negociado em dólar no mercado internacional, mas é vendido em reais aqui no Brasil, o câmbio tem um impacto importante nesse sentido, dado que a gente acaba negociando o preço, comercializando o preço em reais aqui no Brasil”. Em março, por exemplo, foram anunciados seis reajustes no diesel: quatro aumentos e duas reduções. Em 2019, o preço médio nas refinarias teve alta de mais de 18%. A Petrobras é responsável por 54% do preço do diesel. Os outros 46% estão relacionados ao refino, impostos, revenda e ao biodiesel, que é misturado no diesel. Em nota divulgada no dia 26 de março, a diretoria executiva da Petrobras informou que decidiu alterar a periodicidade de reajuste nos preços do diesel vendido nas refinarias, que não poderão ser reajustados em períodos inferiores a 15 dias. Quando tomou posse na presidência da Petrobras, no dia 3 de janeiro, o economista Roberto Castello Branco disse que os preços dos combustíveis iriam acompanhar os do mercado internacional. “Os preços de combustíveis devem atender à paridade internacional com um sonoro não aos subsídios”. Uma resposta a qualquer possível tentativa de usar a Petrobras para controle da inflação. A estratégia de intervir na empresa foi marcante durante o governo Dilma. O preço do combustível subia no mercado internacional, mas o governo determinava que a Petrobras não repassasse o aumento. Uma forma de evitar que o reajuste se disseminasse pela economia, mas que provocava um prejuízo bilionário à Petrobras, que arcava com a maior parte da diferença no preço. No governo Temer, a Petrobras passou a adotar os reajustes no diesel de acordo com o mercado internacional. Mas a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, levou Temer a obrigar a empresa a não repassar aumento de preço em intervalo inferior a um mês e o governo assumiu o prejuízo da estatal, que em seis meses foi de quase R$ 7 bilhões. Dinheiro dos impostos do contribuinte que foi usado para subsidiar o diesel. O porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rego Barros, disse que a reunião do presidente Jair Bolsonaro com dirigentes da Petrobras será na terça-feira (16) no Palácio do Planalto. O presidente quer envolver ministros no debate sobre a política de preços da Petrobras para decidir sobre o reajuste que ele mandou cancelar. “Por princípio, o presidente entende que a Petrobras, uma empresa de capital aberto, sujeita às regras de mercado, não deve sofrer interferência política em sua gestão. No entanto, em face do impacto sobre a população do ajuste anunciado, ele recomendou aguardar a implantação e convidou ministros da área e equipe técnica da Petrobras para comparecer na terça no Planalto para discutir aspectos técnicos da decisão”. Um dos temores dos investidores é que esse tipo de intervenção volte a ocorrer em outras estatais como as do setor elétrico. O economista Luiz Carvalho avalia que segurar o preço do diesel provocará um desequilíbrio nas contas da Petrobras. “O primeiro impacto que a gente enxerga para a Petrobras é um impacto na receita da companhia, na geração de caixa da companhia, em função de um preço menor do que poderia ser. O segundo impacto, que é muito relevante, é do lado do desinvestimento. A Petrobras ainda tem um problema de endividamento muito alto e parte desse endividamento deve ser reduzido. O terceiro impacto é, de fato, a percepção de risco sobre a companhia como um todo, sobre como a companhia pode ser impactada, as suas atividades, em função de uma possível intervenção um pouco maior de entes externos, e não um processo decisório baseado na racionalidade econômica dos seus administradores, do presidente da companhia e da sua diretoria”. O que diz a Petrobras A Petrobras divulgou nota em que afirma que o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, considera legítima a preocupação de Bolsonaro com o reajuste; que a empresa é completamente autônoma para a tomada de decisões e que sempre buscará a defesa dos interesses de seus acionistas e do Brasil. Em esclarecimento enviado à Comissão de Valores Mobiliários, a Petrobras declarou que: “Diante do reajuste de 5,7% no diesel e das ameaças de nova paralisação dos caminhoneiros, a União alertou a empresa sobre possível agravamento da situação e solicitou esclarecimentos. A empresa afirmou à CVM que suas atuais operações permitiam um espaçamento por mais alguns dias no reajuste e que, com base em avaliação técnica, decidiu, por ora, não alterar o preço do combustível”.


Fonte: G1

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